"Proponho que a única coisa da qual se possa ser culpado, pelo menos na perspectiva analítica, é de ter cedido de seu desejo." (Lacan, 1959)

A Angústia na Psicanálise: O que Uma Neurose te Revela?

Como a neurose reflete as fissuras entre o desejo e o Outro? Neste texto, exploramos o sintoma neurótico à luz do pensamento lacaniano, revelando como ele expressa o impasse do sujeito diante do desejo e das demandas inconscientes. A partir das relações entre angústia, amor e defesa, veja como Lacan explica o sintoma como uma resposta falha e cifrada às faltas e tensões que nos atravessam, e como a análise pode reposicionar o sujeito frente ao que verdadeiramente deseja.

No campo lacaniano, o sintoma neurótico constitui uma manifestação das fissuras e impasses que o sujeito encontra em sua relação com o desejo e o Outro. Lacan define o sintoma como uma formação do inconsciente que representa uma resposta ao que não pode ser simbolizado; ele surge como efeito de uma tentativa fracassada de inscrever o desejo em uma lógica que sempre falha. Assim, o sintoma, enquanto formação substitutiva, é uma expressão cifrada das contradições e impasses que permeiam a subjetividade do sujeito.

A ligação entre o sintoma neurótico e os afetos, como o amor e a angústia, é estrutural. Lacan pontua que o sintoma carrega um aspecto defensivo na tentativa de lidar com o encontro do desejo do Outro, funcionando como uma barreira contra a angústia e a castração. Esse movimento defensivo, entretanto, também coloca o sujeito em um lugar de demanda ao Outro, como se o sintoma dissesse: "eu estou aqui, sou para ti". O sofrimento psíquico, nesse sentido, se manifesta como uma forma de inscrição do sujeito no campo do Outro, na busca por reconhecimento. Esse lugar ambíguo do sintoma – como defesa e demanda – é ilustrado na afirmação de Lacan de que "o sintoma é o retorno da verdade como algo que falta" (Seminário 11: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise, 1964).

A angústia, por sua vez, é associada ao conceito lacaniano de objeto a, que representa o que causa o desejo e, ao mesmo tempo, a falta irrecuperável no campo do Outro. Em seu Seminário 10: A angústia (1962-1963), Lacan expõe que a angústia surge justamente quando o sujeito se depara com o vazio deixado pela impossibilidade de apreender o objeto a em sua totalidade. Esse encontro com a falta do objeto a coloca o sujeito em uma posição de desconforto fundamental, pois a angústia denuncia o hiato estrutural entre o desejo e seu objeto inalcançável, aquilo que causa o desejo, mas que o sujeito nunca pode possuir.

No contexto do sintoma neurótico, a angústia ocupa um papel central: é o motor de sua formação e manutenção. O sintoma se constitui como uma tentativa de resposta à angústia gerada pela ausência do objeto a, preenchendo essa falta com substitutos simbólicos ou ações repetitivas que, embora organizem uma certa relação com o desejo, não eliminam a angústia – apenas a redistribuem. Lacan sugere que o sintoma neurótico é, assim, um "remédio insuficiente", que, ao mesmo tempo em que protege contra a angústia, mantém o sujeito preso em sua repetição.

O sintoma, portanto, revela as estratégias do sujeito para se situar diante do desejo e das demandas do Outro, enquanto aponta para a incompletude fundamental que marca a condição humana. Nesse sentido, a análise do sintoma neurótico permite ao sujeito reconhecer os limites dessa tentativa de fechamento e talvez reposicionar-se em relação ao que deseja, sem a expectativa de preencher totalmente a falta estrutural que caracteriza o desejo.