A importância de iniciar e sustentar uma análise é central na prática psicanalítica, especialmente sob a ótica lacaniana. Em sua obra, Jacques Lacan coloca o desejo no cerne da experiência analítica. O desejo, para Lacan, não é um simples querer consciente, mas algo estruturado no inconsciente e constantemente moldado pela linguagem e pelo Outro (aquele que, na teoria lacaniana, representa a presença dos outros e a cultura na psique do sujeito). No seminário A ética da psicanálise (1959-1960), Lacan explora a máxima de "não ceder no seu desejo", propondo que a psicanálise convida o sujeito a confrontar-se com aquilo que verdadeiramente deseja, sem a mediação de ideais impostos ou identificações alienantes.
O percurso analítico permite ao sujeito transitar por suas construções simbólicas e imaginárias, desvelando os significantes que organizam suas escolhas e respostas diante do Outro. Sustentar essa travessia demanda tempo e insistência, pois a análise não se reduz à eliminação de sintomas ou ao ajuste aos padrões sociais; ela visa algo mais radical: uma transformação na relação que o sujeito mantém com seu desejo. Esse processo ocorre através da relação transferencial e da escuta cuidadosa do analista, que, seguindo o método lacaniano, busca conduzir o analisante a uma maior responsabilização por suas escolhas.
Além disso, no Seminário XI (1964), Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise, Lacan reforça que o objetivo último da análise não é adaptar o sujeito a normas ou expectativas sociais, mas levá-lo ao encontro de seu desejo — uma operação chamada de "atravessamento da fantasia". Este atravessamento implica uma ruptura com as ilusões que sustentam o fantasma inconsciente, permitindo ao sujeito reconhecer as contingências que moldaram seu percurso e, a partir daí, reposicionar-se em sua relação com o desejo.
Assim, a importância de uma análise se revela na possibilidade que oferece de fazer um trabalho de subversão das respostas automáticas do sujeito, permitindo que ele se torne agente de sua história. Essa possibilidade de abertura à diferença subjetiva é a verdadeira mudança que uma análise proporciona e, talvez, o que mais distingue a psicanálise lacaniana das práticas que visam o bem-estar imediato e o conformismo adaptativo.